quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

O Desafio


Aquele bar era famoso pela singularidade da sua clientela. Era o porto seguro, o ponto de encontro dos jornalistas da cidade do Rio de Janeiro. Localizado na zona boêmia do Centro, a famosa Lapa, o local exibia com orgulho, na tabuleta da entrada, o seu horário de funcionamento. Estava lá escrito: Abertura - 18 horas. Fechamento: Até o último cliente.

As grandes redações de jornais, as principais, ficavam ali pelo Centro e era comum que as equipes, após o fechamento da edição, antes de ir pra casa nas altas madrugadas, fossem pro famoso bar, em busca de uma boa bebida ou, quem sabe, uma boa conversa, regada a uma boa sopa ou, com sorte, a um bacalhau tradicional, especialmente quando era início de mês.

Naquela época, sem computador, era de fato uma equipe que se incumbia do fechamento do jornal. Além do editor chefe e dos editores de área, como política, cidade, cultura, internacional, esportes e polícia, havia os diagramadores e ainda o cara do arquivo de imagens. Este último era o personagem que quase sempre era chamado pra fechar algum buraco, ou seja, um espaço que não havia sido preenchido por notícias.

As noites de quarta-feira eram as mais difíceis de dar por fechada a edição. Isso porque a Editoria de Esportes tinha que esperar acabar todos os jogos da rodada pra poder trazer os placares e as primeiras análises. Essa turma era bem unida. Saía junta da redação e o papo lá no bar era só futebol até, digamos, o último cliente.

Famoso por sua frequência, como dito na abertura, aquele era um bar onde todos se conheciam, ou melhor, onde todos já tinham trabalhado juntos, de alguma maneira, em alguma ocasião. Tanto os jornalistas que iam e vinham das redações do próprio Rio de Janeiro, como os que iam se aventurar em São Paulo ou Brasília, tão logo pudessem, voltavam ali assiduamente para rever os amigos, os ex-chefes, os estagiários e por aí vai.

A depender da hora, o local também era oportuno para discussões as mais variadas possíveis. Uma das mais famosas girava em torno da origem do costume pré-renascentista de se brindar batendo os copos ou, para usar o termo corrente, golpear entre si as grandes canecas. Aquele foi um debate interessante de se ver, ainda mais porque não havia internet, como já dito, nem celular e tampouco as consultas ao oráculo, o Google.

Foi então que no meio da sopa de tomate com manjericão, surgiu o Fagundes. Já foi chegando e pegando uma cadeira pra sentar junto dos seus. Depois, olhando os outros comerem, perguntou qual era a boa da noite, se referindo à refeição que coloria os demais pratos. Quando alguém respondeu tomate, entre uma e outra colherada, ele então chamou o Osvaldo pra pedir a dele.

– Traz uma dessa pra mim também, a jato, por favor, meu caro Wadão.

Nesse instante todos na mesa levantaram os olhos e se deram conta de que o coitado do Fagundes estava todo molhado, encharcado mesmo até os sapatos. Num segundo ele já tinha tirado a jaqueta e apoiado a alça da bolsa nas costas da cadeira.

– Dia de chuva até vai. Mas chover na hora exata em que você sai do prédio do jornal, aí já é demais.

– Relaxa rapaz. Pelo menos refresca e faz bem pras plantas, as florestas em geral.

– Falou o “do contra”. Para com isso, Vavá. Chuva é boa para as plantas?

– Claro que é. A gente tem sempre que buscar o outro lado das coisas. O que pode ser ruim pra você, pode ser bom pra outro.

– Ah, tá... Se a minha sopa vier fria, vai ser bom pra quem, ô Vavá?

– Assim, de pronto eu não sei, mas em alguma situação pode ser. Nada é 100% unanimidade. Nunca.

A sorte de todos na mesa foi que a sopa do Fagundes chegou logo. E estava até quentinha, o que valeu um alto e claro elogio ao Wadão, um português de bigode largo e bem preto. Diziam que, pra ficar daquele jeito, o portuga passava uma mistura secreta, que tinha até graxa de sapato. Jamais se comprovou tal suspeição e como era um sujeito boa praça com todo mundo, ninguém queria aborrecer o gajo com perguntas sobre o seu bigode. Na certa ninguém queria arriscar ter de tomar uma sopa fria, no meio da madrugada, ainda mais com chuva!

Depois do jantar, já no degustar do cafezinho, que também era digno de nota, o homem que veio da chuva resolveu verificar na sua bolsa o que havia sido salvo da molhadela. Primeiro tirou uma caderneta e um livro. Abriu os dois, virou, assoprou e fechou de novo. Depois tirou um maço de cigarros. Esse foi todo pro lixo no ato. Por fim, sacou um estojo onde havia um conjunto de canetas, de três cores, que ele usava pra fazer revisão dos textos da sua editoria.

Como ninguém puxou conversa alguma, diante daquela ação toda de tira-e-põe as coisas molhadas na bolsa, o silêncio deu margem pra que o provocador Fagundes surgisse novamente das cinzas, ou das águas.

– Quer dizer que tomar chuva depois do trabalho é bom, não é senhor Valfredo?

– Valfredo porra nenhuma. Vavá, cacete. Não vem me irritar não...

– Calma, só estou tentando entender. Achei que era fome. Mas mesmo agora, depois de matar essa sopa deliciosa, ainda não faz sentido, rapaz.

– Eu não disse que pegar chuva é bom. Só disse que para as plantas pode ser. Aliás...

– Vem cá, ô Vavá, fora as plantinhas, as bromélias e as borboletinhas, me diz aí quem mais gosta de dias de chuva?

– Você acha mesmo que ninguém no mundo gosta quando está chovendo?

– O cara então acorda, abre a janela e olha lá fora a maior chuva caindo e ele diz: que beleza, que sorte, que dia lindo...

– Não é isso que eu estou dizendo. Mas certamente há de ter gente que goste de dias chuvosos, ué?

Metade da mesa estava rindo, perscrutando onde aquela conversa ia dar. A outra parte, mais ativa, estava de plateia, aplaudindo, grunhindo, dando impulso para os novos argumentos que iam surgindo. A cada novo embate um dos dois se sagrava campeão para, logo a seguir, ver o outro com a faixa e o troféu nas mãos.

Na mesa ao lado, ouvindo tudo, estava o Ataíde, um conhecido jornalista já aposentado. Todas as quartas-feiras ele ficava esperando o sobrinho, filho único do falecido irmão, que vinha da faculdade e passava ali pra jantar com o tio. No meio daquela madrugada, excepcionalmente, o rapaz vinha de uma festa e ia dormir na casa do Ataíde.

Ao perceber que o senhor olhava com curiosidade para a mesa ao lado, o Fagundes o convidou para aderir à sua tese:

– Ouviu essa Ataíde? O Vavá aqui tá dizendo que tem gente que adora dias de chuva? Acho que o Wadão pôs alguma coisa na sopa dele, e não foi tomate! – disse o alegre Fagundes, ante os aplausos dos colegas.

Demonstrando mais uma vez aquela sua calma, típica dos homens experientes, que todos ali já conheciam de outros embates, o jornalista respondeu:

– Para mim tudo é uma questão de ponto de vista. Então, escute aqui meu caro, se eu te provar que existe alguém nesse mundo, que gosta de dias de chuva e até prefere isso aos dias normais de sol, que a maioria gosta, você se dá por convencido de que tudo é uma questão de ponto de vista?

– Meu querido Ataíde, dessa vez eu vou até o fim e vou continuar discordando de você. Me desculpe, mas eu te desafio a me mostrar alguém que prefere um dia de chuva. Isso é loucura. Não tem. Não tem mesmo! Tá feito o desafio.

– Então, pra ficar mais emocionante, vai valer o quê?

– O que você quiser. Pode ser um vinho, um champanhe. Pode escolher qualquer uma dessas aqui – falou, apontando para as prateleiras cheias de garrafas ao redor do restaurante.

– Certo. Um Vinho do Porto então, que é doce e combina bem com os lindos dias de chuva em Lisboa.

– Ok. Um Vinho do Porto pra você e pra mim um jantar de bacalhau. À Gomes de Sá, pra ser exato.

A plateia se pôs em polvorosa. Alguém disse que deviam cobrar ingresso para aquela noite. Que o desafio estava lançado e aquilo ia ser melhor que a melhor das peças de teatro em cartaz na cidade.

Neste momento, adentra o recinto “O Sobrinho”, figura que tanto o tio Ataíde como este modesto narrador esperavam ansiosos, e que faz por merecer, portanto, não só as aspas como as letras maiúsculas.

Antes de se sentar o rapaz beijou o rosto do tio, cumprimentou a todos na mesa ao lado e apertou a mão do garçom, dizendo o nome dele – Seu Oswaldo, boa noite – com toda a deferência.

Puxando a cadeira pra ficar de lado para a mesa vizinha, o Fagundes disse esfregando as mãos:

– E então, sou todo ouvidos, senhor Ataíde.

O tio então passou a explicar o desafio ao rapaz, sem dizer o cerne da questão, apenas informando que estava em curso uma competição e que o desafiante deveria ser convencido de um certo ponto em divergência. O sobrinho franziu a testa e deu sinal de que não estava entendendo direito, mas que, até então, aquilo era o suficiente. O tio então retomou:

– Eu vou te fazer uma pergunta simples. Muito simples. E depois vou te pedir um complemento, também simples. Ok?

– Ok. Ai, meu Deus. Não sei onde eu fui me meter.

– Vamos lá. A pergunta é: o que você gosta mais, ou melhor, o que você prefere, um dia de chuva ou um dia de sol?

O rapaz olhou para os lados, tentou perceber a estranheza do semblante de cada um e disparou:

– Eu prefiro os dias de chuva. Muito mais.

– Não é possível! – disse o Vavá, arrastando a cadeira.

– Ah, puta-que-pariu! – socava a mesa o Fagundes.

– Espera. Espera gente. Agora a segunda parte, o complemento da pergunta: e porque você prefere os dias de chuva? Pode explicar com os melhores detalhes. Tens todo o tempo do mundo, por favor.

– Eu sei que parece estranho gostar de chuva, de preferir os dias de chuva aos de sol. Mas meu tio sabe bem a razão disso. Eu trabalho num lava-carros que fica bem perto de casa. Faço bico lá de dia e, de noite, vou pra faculdade. Então, a gente sabe que as pessoas não gostam de lavar o carro quando está chovendo, né? Lógico, porque senão vai sujar tudo de novo. Aí, quando chove, eu fico dentro do quartinho que tem lá, fico vendo televisão, ouvindo música, leio as matérias da faculdade e, dependendo do dia, eu até posso ir em casa almoçar com mais calma. O chefe paga a diária da mesma forma, porque lá também é um estacionamento. Aí, ele só telefona de vez em quando pra ver se a gente está lá na loja. É isso!

– Puta merda. Que garoto esperto do cacete! Matou a charada!

– Agora sim, eu entendi, cacete. Claro, o guarda-vidas deve ter o mesmo gosto. Que bosta.

– E além do guarda-vidas e do nosso garotão aqui, ainda tem as plantinhas, as borboletinhas...

– Ah, vai se danar, Vavá! Que bosta. Já vou ter de pagar um Vinho do Porto pro mestre aqui. Ô guri, eu acho que vou ligar pro teu chefe pra ele te pagar só a metade nos dias de chuva. Onde já se viu? Que bosta.

Cada um que complementava o comentário era motivo pra outra saraivada de risadas. Ao perceberem a movimentação, as pessoas das outras mesas vinham pra perto perguntar o que estava acontecendo e todos saíam rindo depois da explicação.

O sobrinho ganhou um belo jantar do tio, enquanto ouvia uma penca de elogios e incentivos de todos, pra que estudasse forte e terminasse bem a faculdade.

Desde essa noite eu nunca mais passei um dia de chuva sem pensar no garoto que trabalha no lava-carro aqui da esquina. Pois que, enquanto todo mundo reclama do dia ruim, para ele é um dia bom, jogando no seu celular, com o seu fone a todo volume, talvez trocando mensagens com sua galera e quem sabe até estudando, o que seria o ideal.

Mas o ponto final dessa história foi a despedida do seu Ataíde naquela noite do desafio. Depois de pagar a conta, juntar as suas coisas e levar o sobrinho pelo braço até a saída, o homem parou na porta e disse:

– Ô Fagundes, agora me lembrei de uma coisa. Sabe quem também gosta de dias de chuva? O bom e velho Vinho do Porto. Até outro dia pessoal – e saiu levantando a garrafa como se fosse um troféu.

 

 


sábado, 13 de janeiro de 2024

Madadayo


Perto do ponto de ônibus tinha um supermercado e, ao lado dele, uma escola grande, dessas que possui curso técnico e profissionalizante, com mil alunos entrando e saindo, trânsito caótico e muito barulho.

O velho chega com sua sacola e senta no abrigo do ponto, só pra tomar um fôlego. Arruma alguns produtos na bolsa, o pão e o café, confere a chave de casa e o cartão de crédito e volta a pôr tudo de novo no bolso da camisa.

Ficou ali descansando um bom tempo. Tempo bastante pra perceber dois alunos que conversavam sem parar. Estranhou que eles não olhavam os números dos ônibus que passavam e não faziam sinal pra nenhum deles, dando a concluir que não estavam indo pra casa depois da aula.

Um outro aluno passou a caminho da escola:

– E aí galera, já estamos quase atrasados. Vamos juntos?

– A gente não vai não.

– Como assim? Hoje tem a rodada de matemática e vale ponto.

– Mas a gente não vai não. Vai indo você. Já tá quase na hora.

O jovem então arrumou a mochila nas costas, estendeu a palma da mão aos dois e se foi.

O velho ouviu toda a conversa e por um instante avaliou agir de modo diferente. Note o caro amigo leitor que, quase sem querer – eu disse quase – as palavras jovem e velho estão bem próximas ali nas linhas anteriores. Mas, contudo, perceba também o quão distantes estão, em razão de como cada um se envolverá com a situação. Enquanto o jovem vai-se embora, regando a própria vida, o outro, o velho, se interessa, estanca e procura, nos próprios bolsos, algum alento, alguma maneira de interceder, ajudar, agir em função de algo que um dia se chamou de empatia. Talvez seja por isso, justamente, que falaremos muito do velho, e nada mais do jovem.

Pois o velho, como adiantamos, foi pra perto dos estudantes.

– Não vão me dizer que vocês vão matar aula?

– Não é bem matar aula. A gente só não vai pra essa primeira, a de matemática. Na próxima aula a gente entra.

– E qual é o problema?

– Na verdade nem é comigo, moço. É com o meu amigo aqui – disse apontando o rapaz ao lado. Ele está numa enrascada com o professor.

– E seria muita intromissão minha se eu pedisse pra vocês me contarem?

O estudante, calado e cabisbaixo, deu um suspiro profundo e iniciou.

– É que teve um trabalho pra fazer e eu não fiz. Aí o professor combinou comigo que não ia tirar ponto, se eu tivesse uma boa participação na rodada, que é hoje. Só que eu não consegui estudar nada e tudo pode ser pior ainda se eu disser isso para ele.

– Mas, uma coisa: me explica o que é essa tal rodada de matemática.

– É uma aula bem maneira. Ele sorteia alguns exercícios, problemas matemáticos. Aí os grupos escolhem um deles e vão ao quadro pra resolver. Mas tem que resolver e explicar, como se estivesse dando uma aula pro resto da turma.

– Poxa, me parece muito bom isso.

– Sim, é muito bom. A gente simula os erros que as pessoas podem cometer ao resolver a questão e sempre tem alguém da turma que faz pergunta ou diz que não entendeu um pedaço e a gente é levado a explicar tudo certinho. Isso até nos ajuda a entender melhor a matéria. A turma adora a tal da rodada.

– Ok. Agora, por que você não quer ir pra aula?

– Ele não quer ir porque teve uma briga na casa dele. Aí ele tá um pouco triste – disse o colega, interrompendo.

– Acho que meus pais estão se separando. Eles brigam muito, todo dia. Eu não consigo estudar direito, não fiz o trabalho anterior e hoje não estudei o ponto novo, que tem um tipo de equação que tem uma fórmula. Então, não vou entrar porque vou passar vergonha. O professor é legal, a gente gosta dele. Sou eu que estou preferindo não participar.

O velho, de novo, ouviu tudo. Pensou uns instantes e depois olhou pra fachada do colégio, mediu o peso das duas sacolas que carregava e perguntou:

– Será que se eu falasse com o professor ele poderia compreender o seu problema?

– Mas, o que ele poderia fazer?

– Isso eu já não sei. Mas na nossa vida o primeiro passo é entender, compreender o outro, o próximo. Depois ele dirá o que pode ser feito. O que vocês acham?

– Mas o senhor está dizendo que iria lá na sala falar com o professor?

– Isso mesmo. Podemos ir os três.

Nem deu tempo de os meninos responderem e o velho já tinha levantado, pego as sacolas e seguido no rumo da escola, chamando os dois estudantes.

A surpresa foi tamanha que, ao verem o professor de matemática abraçar o velho e o acolher com tanta emoção, os rapazes estancaram na porta da sala diante da incrédula cena. A partir daí o diálogo era medido pelos gestos de ambos que ora apontavam o menino, ora faziam gestos de quem escreve no quadro de aula e alterna, com o dedo em riste, apontando para a própria cabeça ou para um livro imaginário estendido nas palmas das mãos. A turma toda ali assistindo, atônita, e a rodada de matemática suspensa, temporariamente.

– O senhor tem toda a razão, mestre – disse por fim o professor ao velho. Nós temos a obrigação de perceber nos nossos meninos a realidade da existência de cada um. Do mesmo modo que eu tenho aluno que não estuda por não ter dinheiro pra comprar o livro, outro não faz o trabalho por não ter paz em sua própria casa. Um ambiente doméstico favorável faz toda a diferença, como eu e o senhor sabemos.

– Eu fico muito feliz por revê-lo, professor, e mais ainda por sua empatia e sensibilidade para com o menino, seu aluno.

– A felicidade é toda minha, meu mestre. E obrigado por trazer o Júlio e o Henrique de volta pra sala. Vai com Deus e muita saúde para o senhor.

A despedida foi celebrada com um desarticulado bater de mãos entre os dois meninos e o velho. Talvez para celebrar algo que estamos propondo desde o início dessa crônica: um encontro próspero entre o velho e o novo, com tudo de positivo que isso pode proporcionar.

 

O velho, ao me contar esse episódio, bem na frente do grande colégio, aqui perto de casa, deixou escapar o quanto se orgulhava por ter tido o professor dos rapazes como seu aluno. “Em priscas eras”, sublinhou.

No prosseguimento da nossa conversa eu disse que tinha um blog e que certamente aquela história ia ser contada, ao que ele respondeu com alguma lisonja. Entretanto, a certa altura, quando já nos despedíamos, me veio uma memória cinematográfica:

– O senhor conhece um filme chamado Madadayo? Me lembrei dele agora, ao ouvir a sua história.

– Claro que eu conheço. Um legítimo Kurosawa e considero um dos melhores dele. Gosto muito de como o diretor narra a relação entre a turma de alunos e o professor. Um respeito e uma reverência, dignos do povo japonês.

– Exatamente. Acho então que já tenho o título da crônica. Vai ser Madadayo.

– É mesmo uma boa escolha. Pessoalmente, ter essa história associada ao memorável Akira Kurosawa é algo que me traz muita honra. A mim e a todo ex-professor. Obrigado.

– Obrigado ao senhor pela história, mestre.