Comprar pela internet sempre foi algo que eu
resistia em fazer. Torcia o nariz para o fato de não poder experimentar, pegar
nas mãos, medir e até sentir o produto, e isso sempre foi um entrave pra mim.
Naquele dia, entretanto, eu resolvi, não sei bem
porquê, testar o site de ofertas de sapato. A enorme variedade de modelos e
cores, combinações, era algo que não se vê nas lojas, principalmente em
Floripa, onde as cores são todas propriedades do público feminino. Para homem
as opções são o preto e o marrom, e todos se contentam com isso. Simples e
resignadamente assim.
Mas naquele site, a festa das opções masculinas
era uma verdadeira maravilha, não só de modelos, mas de cores também. Os
mocassins, às centenas, eram o forte deles, junto com os sapatênis, também
muito procurados.
Escolhido à dedo, ou melhor, com o cursor do
mouse, o mocassim chegou em casa uns dias depois, na data marcada certinha e
tudo o mais. Só que ao abrir o pacote, uma surpresa: não era o modelo que eu
havia comprado. Verifiquei o código do produto e era o mesmo que eu tinha
escolhido, só que o sapato era outro.
Mandei e-mail, contando o ocorrido. No dia
seguinte, nada de resposta. A minha desconfiança com compras pela internet já
estava fazendo piscar o meu detector de furada, que é o meu dispositivo pessoal
que sinaliza quando eu faço algo que sei que vou me arrepender depois. Apitando
o detector, eu tomei a decisão de ligar pro site vendedor. Claro que essas
coisas não são fáceis, pois eles criam os dispositivos para que tudo seja
resolvido pela internet, e quando a gente usa o telefone a coisa nem sempre é
tão fácil como parece.
O atendente do outro lado ouviu o meu relato até
o ponto em que eu disse que o sapato que eu comprei, e o que eu recebi, eram
diferentes. A partir daí ele precisou da minha confirmação dos tais códigos do
produto, que eu passei a seguir, lendo o e-mail de confirmação da compra que
eles mesmos me enviaram.
– Senhor, já entendi. Pelo código que o senhor
me passou, existem dois produtos com a mesma denominação. O que o senhor
comprou foi Mocassim Azul CS – código tal, não foi isso?
– Sim, parece que foi esse mesmo – respondi,
olhando a nota do sapato na minha frente.
E logo acrescentei:
– O código está certinho, mas não era a imagem
do sapato que eu comprei no site. Aliás é bem diferente.
– Só mais um minutinho, por favor.
Enquanto eu esperava, fui olhar de novo no site
e percebi que haviam dois sapatos com os mesmos e exatos códigos e nomes. Ambos eram
Mocassim Azul CS, código tal. Naquele momento eu duvidei de algum resultado positivo
na tal troca.
Passou mais um tempo e voltou o atendente.
– Acabei de entender todo o problema, senhor. No
nosso catálogo, no site, tem dois produtos com o mesmo nome e código.
– Ah, que bom que você viu isso. Eu acabei de olhar
no site e é exatamente assim.
– Sim, exatamente. São dois produtos com o mesmo
nome: Mocassim Azul. Na verdade eles são iguaizinhos, só que um tem a sola
preta e o outro a sola é toda laranja. Um laranja bem tosco, aliás, bem
reluzente mesmo, tipo cabelo de palhaço. Sendo assim, eu vou mandar o modelo
com a sola preta pro senhor e vamos providenciar a devolução deste que foi
enviado errado.
– Amigo, só um instante. O que eu recebi foi o
de sola preta. O que eu comprei foi com a sola laranja. Eu quero justamente
esse, o de solado laranja. O preto eu quero devolver.
– Ah, bem, sabe como é, gosto é uma coisa, de
cada pessoa. Cada um tem o seu e todos devem ser respeitados igualmente. É...
vamos... enfim... trocar... Olha, o senhor me desculpe por ter dito que o
sapato era reluzente, viu?
– Não tem problema. Tranquilo. Vamos fazer a
troca certinha, eu vou ficar com o meu sapato de sola laranja, tipo cabelo de
palhaço, e tudo vai ficar bem.
– Sim, claro, vamos fazer todo o procedimento
para a troca. Me desculpe mais uma vez.
Depois de me passar o código para a postagem nos
Correios e assumir o erro da loja pela duplicidade dos códigos dos sapatos, ele
se despediu.
– Nós agradecemos o seu contato, o parabenizamos
pela sua compra, por escolher a nossa loja e tenha uma boa tarde.
– Boa tarde.
De verdade mesmo, eu só queria ver o atendente
contando esse telefonema para algum colega de trabalho. Como ele ia dizer que o
cliente queria justamente o sapato que ele tinha apontado como horrível, com a
sola laranja reluzente? Ah, como eu queria ver isso!