Eis que as
primeiras notícias da manhã davam conta de que a Polícia Rodoviária Federal
estava fazendo operações nas estradas de todo o país, com o objetivo de impedir
que as pessoas fossem votar.
Nas cidades do
Nordeste, principalmente, e nas periferias das grandes metrópoles as polícias
militares faziam a mesma coisa.
No Rio de
Janeiro o Exército montou verdadeiras barricadas, pelas quais só passavam
eleitores que indicassem seus votos no candidato à reeleição. Na Avenida Brasil
os policiais faziam blitz parando carros e ônibus e só liberavam aqueles que
declaravam o voto no verde e amarelo. Para garantir que os veículos não fossem
parados nas demais barreiras logo à frente, os próprios soldados adesivavam os
carros com o número do candidato. Era a senha para que não fossem parados
novamente.
Nas primeiras
horas do dia o número desse tipo de operação chegava a 100 e, no meio da tarde,
já era mais de 500 em todo o país.
Não bastassem
essas violências contra o eleitor, tudo isso era apenas uma espécie de
complemento aos atos terroristas de dias anteriores, quando um ex-deputado ao resistir
à prisão, ou seja, a uma ordem da Suprema Corte, desferiu 50 tiros, inclusive
de fuzil, e detonou algumas granadas na direção dos agentes da Polícia Federal,
que cumpriam a ordem. Na mesma toada, uma deputada da base governista era
filmada, de arma em punho, perseguindo um cidadão pelas ruas de São Paulo, em
plena luz do dia.
Por mais que o
Superior Tribunal Eleitoral tentasse conter as sabotagens ao processo eleitoral
em curso, ordenando a suspensão das operações nas rodovias, tudo o que se via
era um quadro flagrante de tentativa de manipulação e desrespeito às regras da
votação que se estendia.
Desonesto com
apoio de desonestos. Torturador com apoio de torturadores. Genocida apoiado por
genocidas. Fascistas com apoio de fascistas. Exterminador de florestas apoiado
por exterminadores idem. Negacionista da ciência e da vacina contando com o
apoio de negacionistas da ciência e da vacina. Destruidor da Cultura e das
Universidades Públicas apoiado por destruidores da Cultura e das Universidades
Públicas. Determinado a extinguir a Saúde Pública – SUS, com o apoio daqueles
que igualmente querem o fim da Saúde Pública no Brasil. Ditador, por diversas
vezes pediu a volta do AI-5 e o fechamento de Congresso e STF, e tudo isso tendo
como apoiadores outros ditadores, os ditos cidadãos e cidadãs de bem. Homofóbico
e machista, completando o pacote, com apoio, óbvio, dos machistas homofóbicos e
racista com apoio dos racistas. Simples assim.
Quem se dispôs
a dar o seu voto a esse indivíduo, saiba que se ele sempre foi tudo isso e que,
com o seu ato, cada qual firmou, assinou, aderiu totalmente, eu disse
totalmente, a tudo o que ele representa, faz e diz, na sua linguagem indecente,
típica do homem primitivo que sempre demonstrou ser. Não dá pra se esconder
agora. Todos sabiam exatamente do que se tratava. Cada um que assuma a sua
culpa, a sua imoralidade e desonestidade com a raça humana, com o país, o próximo e também com
o futuro dos seus filhos e netos.
Pois voltando ainda
à cronologia do 30 de outubro, no início da apuração dos votos, todo o país sabia
que as tais tentativas de sabotagem só serviriam para prejudicar um dos
lados da disputa. E era essa a maior das preocupações: com a justiça daquele processo que se desenrolava.
Já nos
primeiros números eu senti que não ia suportar ficar na frente da tevê
testemunhando cada ponto percentual. Então eu fui pro quarto e fiquei ali
andando no escuro. Saía pelo corredor, passava na porta do banheiro, indo até a
janela, sem rumo, ora com a cabeça entre as mãos, ora esfregando o rosto e a
testa e respirando forte, descompassado.
Fiquei assim
por quase duas horas. Rezava e pedia. São Benedito, o santo do meu pai, Nossa
Senhora de Fátima, Cabocla Jurema da minha avó Júlia, Vovô Cipriano, Caboclo
Ubirajara Peito de Aço, Seu Tranca Rua, Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, São
Judas Tadeu, Joanna de Ângelis, Emmanuel, Eurípedes Barsanulfo, André Luiz,
Chico Xavier, Doutor Bezerra de Menezes. Por vezes as lágrimas teimavam em vir.
E eu rezava ainda mais.
Imediatamente,
quando me surgiu a imagem da minha mãe, eu logo pensei no que ela faria se
estivesse ali comigo, se estivesse naquela situação de ansiedade e desespero,
almejando um bem, em nome de tanto bem, e de tantas pessoas que também precisam
desse mesmo bem.
E como sou
filho da dona Jurema, optei por fazer exatamente o que ela faria: uma promessa.
Ali, no escuro
do quarto, diante da janela que mostrava uma noite até então ameaçadora, eu lembrei
da minha mãe e da gloriosa Santa Rita. A Santa Rita dos Impossíveis. A Santa que
dá nome à igreja onde, por quase três anos, eu fui coordenador do grupo jovem e
toquei nas missas dos fins de semana. E lembrei que já tinha um tempo que eu
não conversava com ela, que não relembrava daquele tempo, daquelas músicas, da
imagem que ladeava o altar, sempre rodeada de lindas rosas vermelhas.
O fato é que mal
deu tempo de verbalizar minha promessa e entra a Rê pelo quarto repetindo “Deu.
Deu. Viramos. Ganhamos.”
Hoje, dia 31,
eu saí no meio da manhã para ir até a Igreja de Santa Rita. Entrei, sentei em
um dos bancos e fiquei ali sozinho, rindo, chorando, agradecendo, rezando,
passando as mãos pela cabeça, aliviado pela imensa felicidade e alegre pelo
reencontro com aquela imagem tão querida.
Pela
inspiração que mais uma vez veio da minha mãe, só posso dizer que Deus é quem sabe
tudo sobre o meu frágil coração.
Sempre.
Amém.
PS - O título dessa crônica faz referência à música “16 de
Novembro”, de Ivan Lins e Vitor Martins, lançada em 1988.
https://www.youtube.com/watch?v=7k5qgGugZLU
Promessas vindas do coração são sempre atendidas. Nossas mães sabem disso.
ResponderExcluirQue crônica magnífica. Oportuna. Parabéns
ResponderExcluirFoi um domingo difícil, né, primo? Eu ligava e desligava a tv, mas a ausência de notícias me deixava ainda mais ansiosa, nervosa, e as lágrimas tbm teimavam em rolar. Não era uma eleição comum... muita coisa estava em jogo, dentre elas, a mais importante, a vida, mas por fim pudemos soltar o grito sufocado desde o golpe de 2016 e respirar aliviados... Ganhou o povo brasileiro, ganhou o Brasil, ainda que metade dele não tenha consciência disso...
ResponderExcluirAgora é aguardar esse projeto de tentativa de golpe disfarçado de patriotismo que vem ocupando as ruas passar, aguardar o Jair parar de fazer manha e, a partir de 1º de janeiro começar a reconstrução dessa Nação
Não foi só você que passou por esse drama, meu caro amigo Anderson, eu não tenho a fé que você cultiva, diante do meu ateísmo não tive a quem recorrer, só pedi a meu velho coração que suportasse a tensão que meu cérebro não parava de produzir até que saísse o resultado tão esperado, quando isso aconteceu. Não pulei, nem gritei de alegria, abracei a Izide, minha companheira e choramos juntos, foi a nossa forma de dizer, enfim a luz voltou nesse imenso Brasil!
ResponderExcluirCaro amigo e tenista parceiro Anderson. Sou solidário em todas as suas aflições! Foram meses de esperas, angustias, tristezas que, às vezes, quase chegava a desespero! Isso sem contar que já são anos que estamos vivendo as agruras de um governo do ódio, da mentira, do genocídio. Então, o que estamos vivendo agora é apenas é apenas o rescaldo de tempos inacreditáveis que todos nós vivemos. Ainda assim, ainda nos resta força intelectual e física para ficarmos atentos às possibilidades do retrocesso. No tênis, acho que já pendurei a raquete mas no bar ainda sou parceiro para comemorarmos. Grande abraço.
ResponderExcluir